Num ambiente alfabetizador, é importante que a família chame a criança,
desde muito cedo, para participar de algumas ações, de forma que ela presencie
o contato com a língua escrita, percebendo suas várias funções. Na culinária
isso pode acontecer de maneira descontraída e divertida. Durante a receita de
um bolo, por exemplo, vá perguntando para a criança: "Vamos ver o que
falta colocar? Ah, ainda preciso colocar 3 ovos, está escrito aqui"...
3. Ler histórias: Ler para a criança pequena tem muitos benefícios e, num ambiente
alfabetizador, é a primeira exigência a ser feita, pois é por meio de pais e
professores que a criança passa a ter contato com a língua escrita.
"Quando a mãe lê uma história para a criança, ela é leitora junto com a
mãe", acredita Maria Claudia Rebellato. Leia com frequência para seu
filho: gibis, revistas, contos de fadas... Leia mais de uma vez o mesmo livro,
pois isso é importante para a criança começar a recontar aquela história
depois, no papel de leitora, inclusive passando as páginas do livro
corretamente.
O que pouca gente lembra é que o ato de leitura deve começar muito cedo, com
crianças que ainda estão longe de serem alfabetizadas. "É assim que os
pequenos vão percebendo a relação entre as linguagens oral e falada; vão
identificando as várias funções da escrita, para que serve cada gênero textual;
e vão se tornando leitores e escritores", coloca a especialista. Ao ouvir
histórias, a criança acaba percebendo que a leitura é feita da esquerda para a
direita (importante para o momento em que ela vai começar a riscar), consegue
diferenciar o que é texto do que é desenho, começa a notar que as palavras são
escritas separadamente formando frases que fazem sentido e a adquirir noção de
volume de texto. "É comum, por exemplo, a criança perceber quando a mãe
está pulando trechos da história (geralmente porque ela já está cansada e quer
dar uma resumida na historinha). A criança vira e fala tem mais coisa aí,
mamãe. Isso mostra que ela está já está amadurecendo como leitora e, embora
ainda não leia, já faz o que chamamos de pseudoleitura", observa a Maria
Claudia.
4. Ser um modelo de leitor:
Essa é a premissa mais básica de qualquer ambiente alfabetizador. A
criança forma valores a partir de bons modelos e, assim, ter pais leitores é
fundamental para ela aderir à leitura. "Estante de livro não pode parecer
santuário. As crianças têm de observar que os pais estão sempre mexendo ali,
escolhendo um livro, lendo-o e comentando-o com a família", acredita Cida
Sarraf. E não apenas os livros. A leitura de revistas e jornais também tem de
ser um hábito dos pais.
Os pais também têm de prestar atenção ao ambiente em que fazem sua leitura,
passando a impressão de que ler é prazeroso, mas também é coisa séria. O
ambiente deve ser tranquilo, sem muitos ruídos, com boa iluminação, e deve-se
sentar com a postura corporal correta, para não se cansar rapidamente.
5. Explorar rótulos de
embalagens:
Alguns produtos são recorrentes na dispensa de nossas casas e as
crianças acabam se acostumando com a presença deles. Aproveite momentos de
descontração, como durante as refeições, para ler os rótulos junto com seu
filho. "Com o tempo, ele começa a ler por imagem, por associação. Ele pode
ainda não estar alfabetizado, mas já sabe o que está escrito naquela
embalagem", explica a especialista Maria Claudia Rebellato. Segundo ela,
os rótulos são interessantes de serem lidos porque, na maioria dos casos, são
escritos em letra CAIXA ALTA, que é a qual a criança assimila antes da letra
cursiva.
6. Fazer listas de compras com
seu filho:
Esta aí uma tarefa pra lá de corriqueira: fazer a lista de compras do
supermercado. Num ambiente alfabetizador, o momento pode ser aproveitado: chame
a criança para preencher a lista com você e faça com que ela perceba que você
anota no papel as coisas que irá comprar, para consultar lá no mercado (uma
forma de ela relacionar a linguagem oral com a escrita). Vá conversando com
ela: "Vamos anotar para não esquecer. O que mais vamos ter de comprar?
Então, vamos escrever aqui". Deixe que ela acompanhe com os olhos o que
você está escrevendo e vá falando em voz alta.
7. Aproveitar as situações da
rua:
Placas de trânsito, destino de ônibus, outdoors, letreiros, panfletos,
faixas... onde quer que frequentemos estaremos sempre em contato com o mundo letrado
e é ótimo que os diferentes elementos sejam aproveitados com a criança.
"Dá para levar em forma de brincadeira. 'Olha filho, tem uma placa igual a
essa em frente à nossa casa. Sabe o que está escrito nela?' ou ainda 'Olha,
filho, esse ônibus vai para Cajuru. Cajuru também começa com Ca, igual o nome
da mamãe, Carolina'. É por meio dessas situações que a criança vai percebendo
as diferentes funções da escrita e fazendo associações", acredita Maria
Claudia. Segundo ela, é uma forma não de ensinar/aprender, mas de brincar com
as letras, com as palavras, com a escrita e a leitura.
8. Fazer os convites de aniversário
com a criança:
Escrever nos convitinhos de aniversário é uma etapa da festa da qual a
criança precisa participar. Pergunte a ela: "o que teremos de escrever nos
convites? Precisamos dizer onde vai ser e a que horas". Isso pode ser
feito desde o primeiro aniversário da criança, repetindo nos anos seguintes,
até chegar a vez em que ela própria irá querer escrever sozinha, com sua
letrinha.
Outra atitude interessante é escrever cartões de aniversário ou de casamento na
frente da criança. "Esses nossos amigos irão se casar. Vamos escrever uma
mensagem a eles para enviar junto com o presente?". A situação pode ser
corriqueira para você, mas para a criança tudo é novidade. Participe-a desses
momentos. Nos aniversários das pessoas da família, incentive-a a escrever algum
cartão, mesmo que ela faça apenas desenhos. Pergunte que mensagem ela quis
passar e em seguida faça um elogio ao seu trabalho.
9. Montar uma agenda telefônica:
A agenda telefônica é um bom objeto a ser explorado com as crianças. Ela
mostra, claramente, o que é texto e o que é número, com a função de cada um deles.
O texto é usado para escrever o nome das pessoas ou dos lugares, enquanto o
número é utilizado para informar o telefone. No dia a dia, chame a criança para
observar essa diferença. "Olha filho, deste lado ficam os nomes das
pessoas e deste o número do telefone delas. Vamos ver qual o número da casa da
titia?".
10. Apontar outros materiais
escritos:
Brinquedinhos com palavras e números, calendários, jogos de computador,
álbum de fotografia com legendas, scrapbook, tudo isso pode estar no ambiente de
convivência da criança, mas... desde que realmente sejam usados por ela, e não
funcionem como meros enfeites do seu quarto. "A criança tem de perceber a
função de cada um dos elementos que é posto para ela", reitera Cida
Sarraf. Houve um tempo em que pais e professores acreditavam que bastava
etiquetar os objetos (etiqueta com a palavra cama na cama, com a palavra
armário no armário) para as crianças se familiarizarem com a língua. Mas as
pesquisas mais atuais mostraram que os diversos gêneros textuais precisam estar
presentes e serem usados dentro de uma função comunicativa. Portanto, quando
for montar um álbum com fotos de uma viagem, chame a criança para legendar cada
foto com você. "Você lembra como se chamava este lugar? Vamos escrever
aqui para sabermos daqui a um tempo".
11. Respeitar o ritmo da criança:
Sabe o que mais pode
ajudar na alfabetização de seu filho? Compreender o seu ritmo! Isso mesmo.
Investir no ambiente alfabetizador é importante para que as crianças ganhem
mais intimidade com a língua escrita (e dessa forma encontrem menos dificuldade
quando estiverem aprendendo a ler a escrever), mas isso não quer dizer que o
processo será, necessariamente, acelerado, e é importante que os pais tenham isso
em mente. Lembre-se: começar a ler e a escrever mais tardiamente não representa
problema de aprendizagem ou falta de inteligência. Na maioria dos casos,
significa apenas que a criança ainda não atingiu um nível necessário de
maturidade. Segundo Maria Claudia, a criança fica um tempo absorvendo muita
informação e de repente dá uma decolada, mostrando que conseguiu entender o
processo. "É literalmente um 'click', mas que acontece em momentos
diferentes para cada criança.
Entenda o conceito de ambiente
alfabetizador
A partir das investigações das educadoras Emília Ferreiro
e Ana Teberosky, apresentadas no livro Psicogênese da Língua Escrita, vários
pesquisadores da área começaram a construir uma nova didática da alfabetização,
chegando ao conceito de ambiente alfabetizador. No começo, houve
interpretações errôneas, e professores começaram a colocar nomes nas coisas,
como etiqueta com a palavra lousa na lousa, etiqueta com a palavra mesa na
mesa, supondo ser assim um ambiente alfabetizador. Com as pesquisas que se
seguiram, concluiu-se que um ambiente alfabetizador não somente é aquele que
contem material escrito, mas aquele em que diversos gêneros textuais estão
presentes e sendo usados, dentro de uma função comunicativa. Ou seja, o uso tem
de ser efetivo.
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